Mesmo com a difculdade de falar sobre sexo, até mesmo com amigas mais íntimas(inclusive, isso de alguma forma está mudando), certo dia me peguei trocando idéia sobre os tapinhas que apimentam qualquer tentativa de coito - ah, elas apimentam sim. Não falo de sexo com violência mas, com o mínino de ousadia e criatividade( e até que enfim achei um). Mas, enfim, me daparei com um artigo interessantíssimo sobre o assunto - o qual exibo a seguir, na íntegra. E que bom, não sou nenhuma pervertida não, até que sou bem normal.
Leiam abaixo:
Aos 20 anos, tive na faculdade uma namorada que me enlouquecia. Linda, safada, imprevisível, saia comigo e com um bando de homens, incluindo um professor quarentão que eu sonhava esmurrar.
Lembro que uma vez ela chegou à minha casa de madrugada, com o cabelo molhado, trazendo um buquê de rosas vermelhas para se desculpar por cinco horas de atraso. Brigamos, claro, e, no meio do bate-boca, ela começou a provocar: "Me bate. Você é homem? Então bate. Eu quero".
Não bati. Não tinha coragem nem vontade. Amava aquela doida.
Bem, o tempo passou e a relação maluca chegou ao fim, sem tapas. Nunca mais vi a moça, mas lembro dela e do seu pedido (me bate!), até hoje.
Bater, eu descobri mais tarde, bem mais tarde, não é um verbo inteiramente dissociado do verbo amar. Sobretudo do verbo transar.
O assunto é delicado – afinal, sempre se corre o risco de justificar ou incentivar imbecis que gostam de espancar mulheres – mas vale a pena falar sobre ele. Muitas pessoas têm vergonha dos seus desejos quando eles incluem violência. O sentimento é comum mas o assunto é tabu, com consequências perversas.
Uma amiga com quem falei ontem me disse que, durante anos, deu dicas ao namorado de que havia espaço para tratamentos mais rudes na cama. Ela queria, mas ele não percebeu os sinais ou não gostou da ideia. Quando ela, enfim, achou um parceiro que entendeu o que ela desejava, (e tinha gosto em participar da fantasia), o moço que não entendia, dançou.
Mas o que ela queria? O que querem as mulheres nesse terreno?
Minhas conversas sugerem que não há regras definidas, mas existe um conjunto de práticas comuns: tapas na bunda durante a transa são bem-vindos; um jeito de pegar mais forte, dominador, parece ser importante; segurar os cabelos com força ainda é um clássico. Algumas mulheres vão mais longe e gostam de ser esbofeteadas, com carinho.
Elas usam uma expressão misteriosa – "saber bater" – para definir a combinação de força e contenção que resulta no tapa apropriado.
O que não pode acontecer, pelo que ouvi, é a mulher sentir-se ameaçada. A encenação de força e a sugestão de violência disparam o desejo, não as agressões.
Parodiando Nelson Rodrigues, talvez se possa dizer que as mulheres normais gostam de fingir que apanham. Só as neuróticas querem apanhar de verdade.
Mas há que tomar cuidado com generalizações. Já conheci moças que não suportavam ter os cabelos puxados, outras que reclamavam de mínimos apertões e algumas, sarcásticas, que fariam qualquer sujeito sentir-se ridículo por ter dado um tapa naquele bumbum com PhD. São preferências que precisam ser respeitadas.
E os homens? Eles não falam abertamente sobre essas coisas. Ao longo dos anos, já ouvi menções bem diretas à truculência na cama – "gosto que a mulher fique por cima, assim dá pra bater sem machucar"; "nessa dá pra bater à vontade" – mas em geral se trata desse assunto com reticências.
O que aparece nas histórias masculinas sobre sexo são os palavrões, os agarrões e os tapas no traseiro – além da prática meio hípica de segurar as mulheres "pelas rédeas", os cabelos. Não por acidente, é o mesmo repertório das mulheres.
Homens gostam de sentir dor? Nunca ouvi nenhum que dissesse isso abertamente. Mas já ouvi o contrário. Homens se queixando de mulheres que gostavam de enfiar as unhas, outros reclamando das dentadas. A maioria dos homens parece detestar que lhes puxem os cabelos...
O prazer, claramente, não tem um único formato, nem mesmo para uma mesma pessoa. Ele muda – ao longo de uma relação, ao sabor das circunstâncias, pela passagem do tempo. Com uma certa mulher, um homem pode ser ternura e poesia. E converter-se no ríspido carrasco de outra mulher. Ou pode alternar, com a mesma amante, as posições de tirano e serviçal. Cada um de nós tem preferências e inclinações, mas somos animais flexíveis.
Alguns homens começam o sexo na juventude com um exercício de poder e brutalidade, para descobrir, décadas depois, os poderes afrodisíacos da generosidade. Outros fazem o caminho inverso.
O que todos necessitam é de parceiras que gostem de sentir prazer e saibam reivindicá-lo, de-sa-ver-gon-ha-da-men-te. Se o sujeito não gostar do pedido, ele é o parceiro errado. Sem julgamentos morais, simples assim.
Por falar nisso, aonde andará aquela moça maluca de tantos anos atrás? As pessoas mudam...
O AUTOR: IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA
Lembro que uma vez ela chegou à minha casa de madrugada, com o cabelo molhado, trazendo um buquê de rosas vermelhas para se desculpar por cinco horas de atraso. Brigamos, claro, e, no meio do bate-boca, ela começou a provocar: "Me bate. Você é homem? Então bate. Eu quero".
Não bati. Não tinha coragem nem vontade. Amava aquela doida.
Bem, o tempo passou e a relação maluca chegou ao fim, sem tapas. Nunca mais vi a moça, mas lembro dela e do seu pedido (me bate!), até hoje.
Bater, eu descobri mais tarde, bem mais tarde, não é um verbo inteiramente dissociado do verbo amar. Sobretudo do verbo transar.
O assunto é delicado – afinal, sempre se corre o risco de justificar ou incentivar imbecis que gostam de espancar mulheres – mas vale a pena falar sobre ele. Muitas pessoas têm vergonha dos seus desejos quando eles incluem violência. O sentimento é comum mas o assunto é tabu, com consequências perversas.
Uma amiga com quem falei ontem me disse que, durante anos, deu dicas ao namorado de que havia espaço para tratamentos mais rudes na cama. Ela queria, mas ele não percebeu os sinais ou não gostou da ideia. Quando ela, enfim, achou um parceiro que entendeu o que ela desejava, (e tinha gosto em participar da fantasia), o moço que não entendia, dançou.
Mas o que ela queria? O que querem as mulheres nesse terreno?
Minhas conversas sugerem que não há regras definidas, mas existe um conjunto de práticas comuns: tapas na bunda durante a transa são bem-vindos; um jeito de pegar mais forte, dominador, parece ser importante; segurar os cabelos com força ainda é um clássico. Algumas mulheres vão mais longe e gostam de ser esbofeteadas, com carinho.
Elas usam uma expressão misteriosa – "saber bater" – para definir a combinação de força e contenção que resulta no tapa apropriado.
O que não pode acontecer, pelo que ouvi, é a mulher sentir-se ameaçada. A encenação de força e a sugestão de violência disparam o desejo, não as agressões.
Parodiando Nelson Rodrigues, talvez se possa dizer que as mulheres normais gostam de fingir que apanham. Só as neuróticas querem apanhar de verdade.
Mas há que tomar cuidado com generalizações. Já conheci moças que não suportavam ter os cabelos puxados, outras que reclamavam de mínimos apertões e algumas, sarcásticas, que fariam qualquer sujeito sentir-se ridículo por ter dado um tapa naquele bumbum com PhD. São preferências que precisam ser respeitadas.
E os homens? Eles não falam abertamente sobre essas coisas. Ao longo dos anos, já ouvi menções bem diretas à truculência na cama – "gosto que a mulher fique por cima, assim dá pra bater sem machucar"; "nessa dá pra bater à vontade" – mas em geral se trata desse assunto com reticências.
O que aparece nas histórias masculinas sobre sexo são os palavrões, os agarrões e os tapas no traseiro – além da prática meio hípica de segurar as mulheres "pelas rédeas", os cabelos. Não por acidente, é o mesmo repertório das mulheres.
Homens gostam de sentir dor? Nunca ouvi nenhum que dissesse isso abertamente. Mas já ouvi o contrário. Homens se queixando de mulheres que gostavam de enfiar as unhas, outros reclamando das dentadas. A maioria dos homens parece detestar que lhes puxem os cabelos...
O prazer, claramente, não tem um único formato, nem mesmo para uma mesma pessoa. Ele muda – ao longo de uma relação, ao sabor das circunstâncias, pela passagem do tempo. Com uma certa mulher, um homem pode ser ternura e poesia. E converter-se no ríspido carrasco de outra mulher. Ou pode alternar, com a mesma amante, as posições de tirano e serviçal. Cada um de nós tem preferências e inclinações, mas somos animais flexíveis.
Alguns homens começam o sexo na juventude com um exercício de poder e brutalidade, para descobrir, décadas depois, os poderes afrodisíacos da generosidade. Outros fazem o caminho inverso.
O que todos necessitam é de parceiras que gostem de sentir prazer e saibam reivindicá-lo, de-sa-ver-gon-ha-da-men-te. Se o sujeito não gostar do pedido, ele é o parceiro errado. Sem julgamentos morais, simples assim.
Por falar nisso, aonde andará aquela moça maluca de tantos anos atrás? As pessoas mudam...
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